segunda-feira, 7 de junho de 2010

A inconfidência mineira

 
A descoberta do ouro em Minas Gerais, na última década do século XVII, provocou um enorme afluxo de gente para a região. Em 1776, a população, excetuando os índios, já alcançava cerca de 20% dos habitantes da América portuguesa. No entanto, o declínio da mineração, a partir de 1760, gerou algumas novas tensões sociais.
Cresceu o número de vagabundos e mendigos, aumentaram as fugas e rebeliões de escravos e intensificaram-se as manifestações de devoção religiosa. Outra conseqüência do esgotamento das lavras de ouro foi a criação de uma dívida da capitania perante a Real Fazenda. Isto porque a cobrança do quinto estipulava uma quota mínima de cem arrobas, cada vez mais difícil de atingir.
Pairava assim no ar a ameaça da derrama, ou seja, a cobrança forçada do valor total em atraso. A essa situação de incerteza, o governo de Luís da Cunha Meneses (1783-1788) veio somar o descontentamento dos membros mais tradicionais e influentes da aristocracia mineira. Por medidas arbitrárias, ele afastou-os de atividades administrativas que lhes proporcionavam bons lucros, favorecendo, em seu lugar, alguns protegidos.
Por outro lado, a presença em Minas de indivíduos com formação cultural em Coimbra e em outras universidades européias fazia circular entre eles idéias do pensamento ilustrado francês e notícias dos fatos que tinham levado a Declaração de Independência das colônias inglesas em 1776. De uma forma geral, esse grupo não pretendia a revolução, nem a transformação da ordem social. Mas dava-se conta da importância que o Brasil adquirira no interior do Império português e sonhava com reformas que remediassem a irracionalidade da administração colonial.
Diante das prepotências de Cunha Meneses, reagiram como podiam. Um deles, o bacharel Tomás Antônio Gonzaga, autor dos versos a Marília de Dirceu, escreveu uma série de cartas anônimas, as Cartas chilenas, nas quais o governador era ridicularizado com o apelido de Fanfarrão Minésio. Ao circularem em manuscrito e ao alimentarem as conversas, essas cartas acentuaram o clima de insatisfação.
Com a chegada de um novo governador e a ameaça da derrama, em 1789, essas tensões converteram-se em conspiração. Incluindo Gonzaga e o também poeta Cláudio Manuel da Costa, o cônego Luís Vieira da Silva, o tenente-coronel Francisco de Paulo Freire de Andrade, e outros, cujas figuras mais importantes ficaram encobertas, os conspiradores careciam, porém, de recursos e de planejamento. Nem mesmo o seu ideário pode ser definido com precisão.
Denunciados, a prisão da maioria não tardou. Seguiu-se uma devassa minuciosa, que levou ao confisco de seus bens e à condenação de degredo em África para aqueles que ainda estavam vivos. Apenas o alferes Joaquim José da Silva Xavier, de alcunha O Tiradentes, um personagem secundário, foi enforcado no Rio de Janeiro em 1792.
Digno e corajoso, mas simplório, este último deixara-se seduzir por algumas leituras e convencera-se aparentemente de liderar um grande movimento autonomista. Na realidade, como o episódio dos Mascates em Pernambuco, a Inconfidência mineira traduziu apenas as tensões locais despertadas pela colonização, à medida que ela se implantava. A falta de canais de representação e a rebeldia ainda constituía a principal forma de promover os interesses dos poderosos.

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